A Última Gargalhada (Der Letzte Mann) – 1924
Peço que quem ainda não viu esse
filme e quiser ver, não leia esta resenha, pois há muito a ser falado sobre a
questão final dele, e é impossível fazê-lo sem entregá-lo.
Mais um filme de um diretor
espetacular que não decepciona. Desde “Nosferatu”, Murnau mostra que sabe o que
faz e principalmente como fazer. Com uma película sem diálogo algum, nem sob
telas pretas, este filme retrata a vida sofrida de um porteiro de um hotel
luxuoso em Berlim, orgulhoso de sua posição; entretanto, ele perde seu status
no bairro em que vive, ao ser rebaixado a criado do banheiro masculino do mesmo
hotel, por conta de sua idade. Vemos, aqui, uma direção mais ousada, mais rica
em detalhes, com cenas psicodélicas e surreais.
Destaque, sem dúvida alguma, para
Emil Jannings, que, com uma atuação intensa, faz com que os espectadores não
dêem por falta das falas. E a música, com o turbilhão de sentimentos que o ator
transpassa para a tela, faz com que o diálogo seja realmente desnecessário.
Ressalto a cena em que o velho está na festa de casamento e bebe demais, onde
vemos uma filmagem estonteante e diferente de tudo até então, em termos de
cinema.
O grande contra desse filme é a
inverossimilhança de um final que tinha tudo para tornar essa obra uma master
piece. Depois de cenas de sofrimento, humilhação, e uma pitada de
expressionismo alemão de Murnau, o filme toma um rumo completamente impensável:
o velho, humilhado e beirando à morte, ressurge milionário, com um funcionário
do hotel apadrinhado, que o ajudou quando ele mais precisava. Isso porque a
produção, na época, forçou esse final. Mas por quê? Por que deveríamos engolir
um “final feliz” de alguém que sofreu em todo o filme? Simples: 1924. Talvez,
no pensamento das pessoas, o principal personagem da história precisava dar a
volta por cima, então a produção teve o ímpeto de forçar um final fora de
contexto. Afora isso, é um filme intenso, lúgubre e faz uma história simples se
tornar genial, graças à direção e atuação impecáveis.
4 estrelas para ele (Daria 5, não
fosse o “gran finale”!)
Alemanha/
Mudo P&B/ 77 min.
Direção:
F. W. Murnau
Produção:
Erich Pommer
Roteiro:
Carl Mayer
Fotografia:
Robert Baberske,
Karl Freund
Música: Giuseppe Becce, Timothy
Brock, Peter Schirmann
Elenco:
Emil Jannings
Maly Delschaft
Max Hiller
Emilie Kurz
Hans Unterkircher
Olaf Storm
Hermann Vallentin
Georg john,
Emmy Wyda